É interessante sacar como, entre iguais (ou parecidos), todos se entendem. Ou, pelo menos, ficam mais dispostos a se entender, a estender uma mão, a ver do que se trata antes de mandar um clichê ou uma resposta pronta.
Entre Brasil e Colômbia, somos todos subdesenvolvidos, certo? Sim, mas como eu disse em um post anterior ("O Brasil alemão"), aqui estamos em boa conta. No último sábado, escutei de uma companheira de curso, antropóloga de esquerda, que "o Brasil é o país do futuro". Quase babei!!! Pensei que era frase-feita nossa, limitada pelas fronteiras da brasilidade, tipo "Deus é brasileiro". Mas ela defendia que o país é grande e tem de tudo, incluindo meios de se auto-sustentar. Passado um segundo de orgulho pátrio, eu lhe comentei que toda a vida a discussão internamente era que como um país tão grande e tão "capaz", como ela mesma estava dizendo, podia ser tão dependente. Puro colonialismo. "Puro subdesarrollo", como eu e o Alex dizemos sempre que algo sai mal sem íntriseca necessidade de ter que ser assim.
E falando em fatalidades tercero-mundistas, outro dia quase morri de rir com uma bobada minha que, apesar de impensada, foi muito representativa do que é ter pensamento conectado com a Gringolândia. Estava com dois amigos do curso, e estávamos indo para a estação mais próxima do Transmilênio, o sistema de transporte massivo de Bogotá (e bota "massivo" nisso). Entretida com a conversa no momento de passar pela catraca, não me dei conta de que o que tirei da carteira era o cartão de crédito, não o cartão do Transmilênio, este mais adequado para ingressar no ônibus. A máquina, claro, cuspiu longe o inútil cartão.
Me cagué de la risa, como dizem os hermanos colombianos. Aliás, não só eu, como os dois que estavam comigo. Adiantando-me as piadas que viriam, eu mesma - zoando a minha pessoa - larguei: "Como que não aceitam a porra do cartão! Puro subdesarrollo!". Eles riram, entendendo a gracinha ao melhor estilo gringo. Nosso momento de sarro coletivo em relação aos "desenvolvidos" me fez sentir essa coisa que mencionei no começo do texto: entre parecidos, nos entendemos.
Outro fato também me fez chegar a essa confortante conclusão. Recentemente, entrei em contato com uma importante revista cultural da Colômbia para oferecer colaboração. Depois de alguns casuais desencontros com a diretora responsável, cheguei rapidamente ao momento em que me convidaram para conhecer a redação e falar de um dos temas que eu sugeri e que lhes havia interessado muito. Fui pensando que se tratava de uma conversa-teste, de um primeiro acercamiento. Mas que nada: era para pôr a mão na massa logo. Perguntaram se eu sabia mesmo escrever em espanhol, eu disse que sim. "Com revisão, estará tudo em ordem". Pediram que eu entregasse o texto na mesma semana, eu disse que sim. Ofereceram ajuda telefônica (as entrevistas eram com personagens dos Estados Unidos), e eu disse que sim!*
"Como foi fácil", pensei. Na Alemanha, durante o tempo que vivi lá, mesmo tendo redação em alemão, eu levaria uma eternidade! E por quê? Porque o Brasil não é o país das jovens jornalistas, senão o país do futebol e do carnaval, caralho. E pela desgraça do "subdesarrollo". Como diz o Alex, ninguém quer ir "de Guatemala a Guatepeor".
O fato, dismitificando a pura "hermandade" (que eu realmente acho que existe, mas é claro que a coisa não para aí), é que temos medo - e, portanto, sentimos respeito - de quem é "superior". E que desprezamos os que julgamos "inferiores".
Quase iguais, com essa ponta de desvantagem que a Colômbia crê ter em relação ao Brasil, a coisa é que, pouco a pouco, por aqui vão me aceitando. Só espero que seja por mim, que sou uma coisa menor e mais fácil de entender que um país inteiro.
* Aguardem novidades! Assim que for publicada a reportagem, eu a reproduzirei aqui. Para sanar as curiosidades aguçadas, o texto trata do seriado 24 Horas, Hollywood que acaba de virar matéria universitária. Vejam vocês.
Entre Brasil e Colômbia, somos todos subdesenvolvidos, certo? Sim, mas como eu disse em um post anterior ("O Brasil alemão"), aqui estamos em boa conta. No último sábado, escutei de uma companheira de curso, antropóloga de esquerda, que "o Brasil é o país do futuro". Quase babei!!! Pensei que era frase-feita nossa, limitada pelas fronteiras da brasilidade, tipo "Deus é brasileiro". Mas ela defendia que o país é grande e tem de tudo, incluindo meios de se auto-sustentar. Passado um segundo de orgulho pátrio, eu lhe comentei que toda a vida a discussão internamente era que como um país tão grande e tão "capaz", como ela mesma estava dizendo, podia ser tão dependente. Puro colonialismo. "Puro subdesarrollo", como eu e o Alex dizemos sempre que algo sai mal sem íntriseca necessidade de ter que ser assim.
E falando em fatalidades tercero-mundistas, outro dia quase morri de rir com uma bobada minha que, apesar de impensada, foi muito representativa do que é ter pensamento conectado com a Gringolândia. Estava com dois amigos do curso, e estávamos indo para a estação mais próxima do Transmilênio, o sistema de transporte massivo de Bogotá (e bota "massivo" nisso). Entretida com a conversa no momento de passar pela catraca, não me dei conta de que o que tirei da carteira era o cartão de crédito, não o cartão do Transmilênio, este mais adequado para ingressar no ônibus. A máquina, claro, cuspiu longe o inútil cartão.
Me cagué de la risa, como dizem os hermanos colombianos. Aliás, não só eu, como os dois que estavam comigo. Adiantando-me as piadas que viriam, eu mesma - zoando a minha pessoa - larguei: "Como que não aceitam a porra do cartão! Puro subdesarrollo!". Eles riram, entendendo a gracinha ao melhor estilo gringo. Nosso momento de sarro coletivo em relação aos "desenvolvidos" me fez sentir essa coisa que mencionei no começo do texto: entre parecidos, nos entendemos.
Outro fato também me fez chegar a essa confortante conclusão. Recentemente, entrei em contato com uma importante revista cultural da Colômbia para oferecer colaboração. Depois de alguns casuais desencontros com a diretora responsável, cheguei rapidamente ao momento em que me convidaram para conhecer a redação e falar de um dos temas que eu sugeri e que lhes havia interessado muito. Fui pensando que se tratava de uma conversa-teste, de um primeiro acercamiento. Mas que nada: era para pôr a mão na massa logo. Perguntaram se eu sabia mesmo escrever em espanhol, eu disse que sim. "Com revisão, estará tudo em ordem". Pediram que eu entregasse o texto na mesma semana, eu disse que sim. Ofereceram ajuda telefônica (as entrevistas eram com personagens dos Estados Unidos), e eu disse que sim!*
"Como foi fácil", pensei. Na Alemanha, durante o tempo que vivi lá, mesmo tendo redação em alemão, eu levaria uma eternidade! E por quê? Porque o Brasil não é o país das jovens jornalistas, senão o país do futebol e do carnaval, caralho. E pela desgraça do "subdesarrollo". Como diz o Alex, ninguém quer ir "de Guatemala a Guatepeor".
O fato, dismitificando a pura "hermandade" (que eu realmente acho que existe, mas é claro que a coisa não para aí), é que temos medo - e, portanto, sentimos respeito - de quem é "superior". E que desprezamos os que julgamos "inferiores".
Quase iguais, com essa ponta de desvantagem que a Colômbia crê ter em relação ao Brasil, a coisa é que, pouco a pouco, por aqui vão me aceitando. Só espero que seja por mim, que sou uma coisa menor e mais fácil de entender que um país inteiro.
* Aguardem novidades! Assim que for publicada a reportagem, eu a reproduzirei aqui. Para sanar as curiosidades aguçadas, o texto trata do seriado 24 Horas, Hollywood que acaba de virar matéria universitária. Vejam vocês.
2 comentarios:
Não esquece de me incluir nos créditos. Bocó de mola!
A lo mejor te interesa.
Beijos.
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