miércoles, 12 de septiembre de 2007

O Brasil alemão



A grama do vizinho é mais verde, a gente sabe. É até saudável observar o progresso do outro e sentir-se estimulado a melhorar alguma parte da própria vida que necessite perspectiva para evoluir. Acho inclusive que o processo de aprendizado acontece nestes exatos termos comparativos, afinal estamos todos constantemente exercitando o contato com o outro para, após uma longa vida, descobrir quem somos nós mesmos. Algo como voltar rendido ao próprio umbigo.

Mas achar que tudo o que tem o vizinho é melhor não é legal.

Uma das grandes verdades sobre viajar é que o viajante adquire outra visão sobre seu país de origem. Sobre sua cidade, se for à cidade do lado. Sobre seu bairro, se visitar outros melhores e aqueles que são piores. É como – imagino eu, porque tão longe não fui – olhar a Terra desde uma nave espacial e sentir imediato carinho por esse errante planeta azul que está em perigo.

Na Colômbia, assim como em grande parte da América Latina, o Brasil é adorado. Ótimo que seja adorado, estarão pensando (assim como penso eu), porém retruco que meu raciocínio é mais ambicioso que isso.

Sinto como fosse uma alemã viajando por esse mesmo Brasil: na Alemanha tudo é organizado, não há burocracia, você compra um produto que vem com defeito e recebe dois na troca, além de um vale jantar no restaurante mais caro da cidade e um crédito de 10 mil euros para comprar mais eletrodomésticos na mesma loja. Além, claro, dos olhos dos alemães serem mais verdes.

Pura mentira. Problema todo mundo tem, não importa o quanto isso soe clichê, e coisas nas quais outros podem se inspirar também. Aqui, o cinema brasileiro é visto, por exemplo, como um grande acerto. Ótimos filmes, fartas empresas de distribuição fazendo o seu trabalho, o público enlouquecido com suas próprias histórias e muito mais. O povo me diz, e a minha boca abre. Não que não haja nada de bom no nosso cinema, muito ao contrário, mas o que vem à minha cabeça e funciona de alavanca pra abrir minha boca é o discurso de quem faz cinema no Brasil. “Dominação americana, o espectador não quer se ver na tela, salas literalmente empipocadas e blá, blá, blá”. O que, me perdoem, é a pura verdade – e não um discurso pessimista. O mesmo acontece com o cinema argentino e com o mexicano.

O que será então que acontece na Colômbia? Eles estão pior. Em geral, o cinema é mais capenga, os cineastas capengam mais, e a lei de incentivo é mais jovem. E esse raciocínio não tem a ver somente com o cinema. Eles acham que o Brasil é (mais) maior (de grande), o brasileiro dança melhor, o presidente do Brasil rouba menos e no Brasil se ganha mais.

Será? Oxalá. Amém.

A única contra-tendência nesta história veio de um amigo que comentou o recente acordo assinado entre Brasil e Colômbia para a circulação de cidadãos entre os dois países sem necessidade de visto ou passaporte. Agora basta aparecer no aeroporto com RG (ou equivalente), e se abrem as fronteiras. Meu amigo disse: “É que entre bandidos a gente se entende”.

Eu ri, porque problema a gente tem, e eles também. Poucos param para pensar que Brasil e Colômbia são parecidíssimos, do feijão ao café, da memória curta ao jeitinho (brasileiro?) de burlar as regras, passando pela presença negra na composição das duas populações, o que determinou música, comida e gente com a mesma origem. Sem falar do narcotráfico e da violência urbana.

Conheci uma venezuelana que veio a Bogotá, segundo suas próprias palavras, “para fugir do presidente”. Eu provavelmente fugiria do Chávez, mas não creio que chegaria a idolatrar Bogotá do jeito que ela faz, como se tivesse encontrado o novo amor de sua vida. O velho, de quem hoje é desquitada, se chama Caracas. Até os mendigos daqui, ela frisou, são melhores que os de lá.

Ego massageado à parte quando me falam bem do meu país, o que me dá pena é a relação de imperialismo que a América Latina tem incrustada na sua história. Se não é de fora pra dentro, vai de dentro pra dentro mesmo. O Brasil é mais, assim como a Argentina, que talvez seja ou tenha sido mais que o Brasil. O México também é mais, hoje, do que a Argentina. Mas vá perguntar a um mexicano o que ele acha do tango e da caipirinha. “Isso sim é maneira de se viver”.

Tenho plena consciência que uns países são mais industrializados do que os outros. Que a carne argentina realmente é a melhor. Que o vinho chileno é bom e barato. Que a culinária peruana é talvez a mais elaborada do continente. Mas isso eu sei sem ter que me desquitar do Brasil e porque tive a chance de viajar para identificar o que tinha de bom por aí, no mais além do meu umbigo. Não porque eu padeço da doença “do quero o outro”.

O que faz falta não é entregar troféus aos melhores, senão melhorar. Isso, vale a pena reforçar, enquanto se intercambiam informações e conhecimentos dentro desta subdesenvolvida – e por inteiro – América Latina.

Assim, quem sabe, o Brasil não vai ser pintado de Alemanha, quando não o é (e o que seria se fosse, hein??).

2 comentarios:

Alberto Ramos dijo...

Brasil se pintará de Alemania el día que os toméis la Brahma caliente. ;-)

Anónimo dijo...

de acuerdo!
acho que falta visitar o lado negro da parada, se é que vc me entende.
brasileiro só gosta de conhecer o bom e bonito. o visinho roto, que se fueda!
triste realidade, porém mutável!
bogobesos