jueves, 20 de septiembre de 2007

Dia quase-qualquer


Quarta-feira, dia qualquer, e hoje vivi quase de tudo um pouco. Acordei como há que acordar e decidi comer fruta com aveia, o que QUASE nunca faço. Comi o mamão quase pela metade do prato, sem gosto que eram, a fruta e a aveia. Saí de casa pouco depois das nove, quase o horário que tinha programado. Bom. É incrível (ou crível) a quantidade de coisas que acontece – ou quase – e que acaba por fazer de uma quarta-feira qualquer um dia digno de livro ou novela (cinema pode ser menos espetaculoso).

Casa de Jorge Villa, centro. Cheguei à casa do Jorge, realizador audiovisual e crítico quase ferrenho da Colômbia e a chamada “colombianada”. Eram as 10 ou quase, conforme o combinado para a entrevista. Não fosse o forobodó em frente ao edifício, o plano teria se realizado. Não dei bola para o que me parecia “qualquer coisa”, como faço sempre. Primeira pergunta vai, a resposta quase vem, e resulta que aquela era a data de uma inspeção no prédio, quase para ser desocupado. Vizinhos entraram e saíram acompanhados da advogada e de uma que chorava soluçando horrores ou por aí. Um pouco mais de tempo e um pouco menos de drama, e consigo convencer o Jorge de que a culpa do cinema (ou quase) na Colômbia é da televisão. Saí quase satisfeita: convite para gravar em Cartagena. Bem bom.

Centro de Bogotá, e caminhei entre frustrada e animada com o lance do Jorge. Da projeção passei num átimo à real realidade. A consulta médico no “Profamília” não tinha horário, mas era como se quase. Andei correndo para evitar o meio-dia, que é o horário livre do resto do mundo (ou praticamente isso). Consultório da Dr. Diana, e eu descubro que meu DIU recém-colocado está sendo repelido pelo meu corpo rebelde. Necessidade de exame de gravidez, e termina que eu quase posso ser mãe.

Repito: quarta-feira, um dia qualquer. Nem era feriado. Quase flertando com a idéia da maternidade, eu quase consigo confirmar a possibilidade da dúvida, não fosse minha incapacidade de fazer xixi no momento em que mais preciso dele. Foram 45 minutos de espera para as primeiras contrações da bexiga, e fico sabendo que ser mãe – ou quase – é uma espera que começa muito antes do que se imagina. Não deu nada. Ótimo. Por agora.

Carrera 7ª, eu semi-aliviada. Quase perco o almoço por pouco preço, não fosse a pressa que me garantiu restaurante aberto e o PF de frango. Corri comendo, e logo o filme começou no horário, às três ou quase. Cinemateca Distrital, filmaço, uma loucura. Saí pensando que tinha o tema do meu sonhado documentário. Algo muito inovador – ou quase –, tipo a relação homem e mulher. Tipo simples e contundente?

Tipo cinco da tarde, e aquele sol com ar frio que só Bogotá... Ameacei ir à aula do curso da universidade, mas no fim não. Uma quantidade de coisas em uma quarta-feira, e ao final nada. Estava quase confusa. Cansada. Afinal, quase entrevistadora, realizadora, mãe e documentarista. Incrível a quantidade de coisas que ameaçam acontecer em um dia. E nem era feriado.

jueves, 13 de septiembre de 2007

Modelo curitibano pegado

Do sistema de transporte de Bogotá, o famigerado Transmilênio, diz-se que foi inspirado no tranporte público de Curitiba. Eu não tinha idéia de que os curitibanos, ditos moradores de uma cidade-modelo, iam e vinham tão pegados uns nos outros.

miércoles, 12 de septiembre de 2007

O Brasil alemão



A grama do vizinho é mais verde, a gente sabe. É até saudável observar o progresso do outro e sentir-se estimulado a melhorar alguma parte da própria vida que necessite perspectiva para evoluir. Acho inclusive que o processo de aprendizado acontece nestes exatos termos comparativos, afinal estamos todos constantemente exercitando o contato com o outro para, após uma longa vida, descobrir quem somos nós mesmos. Algo como voltar rendido ao próprio umbigo.

Mas achar que tudo o que tem o vizinho é melhor não é legal.

Uma das grandes verdades sobre viajar é que o viajante adquire outra visão sobre seu país de origem. Sobre sua cidade, se for à cidade do lado. Sobre seu bairro, se visitar outros melhores e aqueles que são piores. É como – imagino eu, porque tão longe não fui – olhar a Terra desde uma nave espacial e sentir imediato carinho por esse errante planeta azul que está em perigo.

Na Colômbia, assim como em grande parte da América Latina, o Brasil é adorado. Ótimo que seja adorado, estarão pensando (assim como penso eu), porém retruco que meu raciocínio é mais ambicioso que isso.

Sinto como fosse uma alemã viajando por esse mesmo Brasil: na Alemanha tudo é organizado, não há burocracia, você compra um produto que vem com defeito e recebe dois na troca, além de um vale jantar no restaurante mais caro da cidade e um crédito de 10 mil euros para comprar mais eletrodomésticos na mesma loja. Além, claro, dos olhos dos alemães serem mais verdes.

Pura mentira. Problema todo mundo tem, não importa o quanto isso soe clichê, e coisas nas quais outros podem se inspirar também. Aqui, o cinema brasileiro é visto, por exemplo, como um grande acerto. Ótimos filmes, fartas empresas de distribuição fazendo o seu trabalho, o público enlouquecido com suas próprias histórias e muito mais. O povo me diz, e a minha boca abre. Não que não haja nada de bom no nosso cinema, muito ao contrário, mas o que vem à minha cabeça e funciona de alavanca pra abrir minha boca é o discurso de quem faz cinema no Brasil. “Dominação americana, o espectador não quer se ver na tela, salas literalmente empipocadas e blá, blá, blá”. O que, me perdoem, é a pura verdade – e não um discurso pessimista. O mesmo acontece com o cinema argentino e com o mexicano.

O que será então que acontece na Colômbia? Eles estão pior. Em geral, o cinema é mais capenga, os cineastas capengam mais, e a lei de incentivo é mais jovem. E esse raciocínio não tem a ver somente com o cinema. Eles acham que o Brasil é (mais) maior (de grande), o brasileiro dança melhor, o presidente do Brasil rouba menos e no Brasil se ganha mais.

Será? Oxalá. Amém.

A única contra-tendência nesta história veio de um amigo que comentou o recente acordo assinado entre Brasil e Colômbia para a circulação de cidadãos entre os dois países sem necessidade de visto ou passaporte. Agora basta aparecer no aeroporto com RG (ou equivalente), e se abrem as fronteiras. Meu amigo disse: “É que entre bandidos a gente se entende”.

Eu ri, porque problema a gente tem, e eles também. Poucos param para pensar que Brasil e Colômbia são parecidíssimos, do feijão ao café, da memória curta ao jeitinho (brasileiro?) de burlar as regras, passando pela presença negra na composição das duas populações, o que determinou música, comida e gente com a mesma origem. Sem falar do narcotráfico e da violência urbana.

Conheci uma venezuelana que veio a Bogotá, segundo suas próprias palavras, “para fugir do presidente”. Eu provavelmente fugiria do Chávez, mas não creio que chegaria a idolatrar Bogotá do jeito que ela faz, como se tivesse encontrado o novo amor de sua vida. O velho, de quem hoje é desquitada, se chama Caracas. Até os mendigos daqui, ela frisou, são melhores que os de lá.

Ego massageado à parte quando me falam bem do meu país, o que me dá pena é a relação de imperialismo que a América Latina tem incrustada na sua história. Se não é de fora pra dentro, vai de dentro pra dentro mesmo. O Brasil é mais, assim como a Argentina, que talvez seja ou tenha sido mais que o Brasil. O México também é mais, hoje, do que a Argentina. Mas vá perguntar a um mexicano o que ele acha do tango e da caipirinha. “Isso sim é maneira de se viver”.

Tenho plena consciência que uns países são mais industrializados do que os outros. Que a carne argentina realmente é a melhor. Que o vinho chileno é bom e barato. Que a culinária peruana é talvez a mais elaborada do continente. Mas isso eu sei sem ter que me desquitar do Brasil e porque tive a chance de viajar para identificar o que tinha de bom por aí, no mais além do meu umbigo. Não porque eu padeço da doença “do quero o outro”.

O que faz falta não é entregar troféus aos melhores, senão melhorar. Isso, vale a pena reforçar, enquanto se intercambiam informações e conhecimentos dentro desta subdesenvolvida – e por inteiro – América Latina.

Assim, quem sabe, o Brasil não vai ser pintado de Alemanha, quando não o é (e o que seria se fosse, hein??).

jueves, 6 de septiembre de 2007

Um blog íntimo para mudar de vida


Hoje senti um clique para fazer deste blog algo mais pessoal e psicológico, algo na base do relato pessoal, como tem feito o diretor Fernando Meirelles no blog sobre a rodagem de Blindness, seu novo filme. Adoro piadinhas mais distantes, do tipo irônico, sobre alguma observação vivida em um lugar diferente daquele com que se está acostumado. Mas a verdade é que ando em um momento introspectivo, e por isso me tem falhado a perspicácia do olhar, pelo menos à agudez que me gostaria.

Mudar de vida é um baita esforço. Mas não é só isso: também é uma maneira de se levar a própria vida, negando – ou tentando evitar – que as coisas se estabilizem ao ponto de gerar tédio, cansaço psicológico, medo da velhice, arrependimento pelo que não se fez. Esse hábito, que eu creio ter desenvolvido, é bom por essa série de coisas que enumerei aqui, mas também é uma espécie de mal, desses que a gente tem sem saber, porque se acostumou a viver com ele.

Minha primeira experiência fora do Brasil foi na Itália, onde conquistei aquela sensação de que o mundo poderia ser meu – e de que oxalá o fosse através das viagens que meti na cabeça que poderia e iria realizar. Em seguida, veio o conturbado, porém riquíssimo e inesquecível período na Alemanha, onde o projeto e os objetivos de se estar ali foram se consolidando no meio do caminho, em uma espécie de cena paralela à que estava realmente acontecendo. Depois dessas vivências, que duraram algo em torno de três anos, voltei para casa com ganas de muito e de tudo, além de um olhar para o Brasil que sem dúvida me parecia muito mais livre e fiel, e portanto mais feliz, do que seria se eu sempre estivesse ficado no meu quarteirão.

Locombia, ao contrário dos outros lugares, escolheu a mim. Não só o país, senão seu contexto maior, que é a América Latina, o subdesenvolvimento e sua pá de coisas ainda por fazer, o modus operandi da gente, a música. E uma pessoa. Interessante ser escolhida quando o que se faz não é outra coisa que escolher, decidir. Vim pra cá com a mesma vontade de conquistar um novo espaço que senti outras vezes, mas com um crédito depositado na conta desta mesma incerteza de ter sido chamada em vez de chamar.

A alegria é aquela velha conhecida: olho pela janela, e é novidade; pego ônibus cheio como fiz milhares de vezes, e a balada é como se fosse vivida por primeira vez, assim como muitas outras coisas simples ou pensadas que faço – me agradem ou não. As pitadas de tristeza vêm da saudade, coisa que até que gosto de cultivar pra sentir amor na prática, do medo de ter errado (esse, tão arraigado na minha cabeça), da ansiedade por que as coisas se resolvam logo e atestem de uma vez que já deram certo.

A Colômbia – ou Bogotá, que é maneira mais justa de se referir ao meu novo entorno – é um lugar de muitas iniciativas. É um pólo de resistência, como todo “santo” canto latino-americano. E de uma incrível força de dentro pra dentro, mais do que de dentro pra fora: gente sobrevivendo como pode, fazendo bicos e curtindo churrascos e cervejas nos intervalos do jogo, pegando ônibus cheio além dos níveis de normalidade e achando isso engraçado, inventando projetos, vendo notícias e novelas na televisão e enfrentando a burocracia dos seus próprios burocratas. E criando - bastante e como pode.

Espero muitíssimo encontrar meu lugar aqui nesse lugar, que não é nada distante do meu de origem. Com sorte, depois das andanças tantas, vou chegar àquela tenaz conclusão de que buscamos a nós mesmos em outros lados, que já posso sossegar, entregar o racicínio à sorte que é minha e também a do espaço que escolhi. Então, poderei celebrar o lado bom de mudar de vida por um país, por alguém... O que for.