domingo, 13 de marzo de 2011

(5) Talento não se escolhe


“A fada troca os dentes de leite das crianças por dinheiro e pronto!”, disse o pai, tratando de ser categórico e cortar a história de uma vez. Josué mantinha o olho arregalado e a cara de dúvida. Que fada? Por que dinheiro? “Josué, não importa! Se quiser deixar seu dente debaixo do travesseiro, ótimo. Se não, joga ele no lixo e pronto”. Era impossível lidar com aquele menino desdentado. Mais impossível era acreditar que uma criança de cinco anos e sem dentes poderia ser tão cética. “É culpa dos game boys, wiis e internets da vida”, a mãe arriscou um veredicto. Josué estava animado, porém, com seu primeiro projeto escolar para uma tal “feira de ciências” do colégio. Entre os amiguinhos, uns tinham desenhado bichos, outros foram bastante engenhosos montando prédios de Lego. Josué, porém, não decidia seu projeto, que era pra segunda-feira. “Vai pintar uma molécula, menino”. Mas ele não tirava os olhos da tia que havia acabado de voltar de uma viagem “inesquecível” pela Europa. Capitais do mundo, museus e hotéis, neve e roupa, gastadeira de dinheiro. No meio da roda dos adultos bocejantes, o único com ouvidos para os relatos intermináveis pôde captar algo científico: “Que a língua gruda quando faz frio”. Gruda onde? Como é? Deixa ver? Problema resolvido.

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