Um passo, uma foto. De celular na mão, o jovem e calado João não perdia um “shot”. Imagens tortas, fora de foco, às vezes incompreensíveis, de repente até bem legais... Isso de auto-retrato com câmera digital é bobeira, ele sempre pensou. Registrar as casas grandes, as ruas bonitas: isso, sim. Uma vida melhor que a outra, ele sempre imaginava. Certo dia, quase foi atropelado de celular na mão. Mas é que a casinha do outro lado da rua era tão linda! Chovia. Chegou vivo, ainda que molhado, à escola. Ficou até tarde para compensar o atraso, fazendo a lição de casa no computador, esperando a mãe faxineira terminar de limpar as aulas para voltarem juntos pra casa. Viu que impressora da secretaria dava sopa, já tarde da noite. Outra vez. Não teve dúvida, conectou o celular. Imprimiu, uma por uma, suas fotos. Mãe chama. Ele esconde tudo, sai correndo. O caminho de volta é longo, as imagens do trajeto escuras... Não dá para fotografar. Perto de casa, gotas de chuva arrancam lama do chão. Dentro de casa, goteiras arrancam lágrimas da mãe. Pelo menos seu cantinho é seco. Na esquina da parede que ele definiu como “seu quarto”, João cola fotos sem foco impressas em papel sulfite. Não tem casa, mas tem celular com câmera.
jueves, 10 de marzo de 2011
(2) João
Um passo, uma foto. De celular na mão, o jovem e calado João não perdia um “shot”. Imagens tortas, fora de foco, às vezes incompreensíveis, de repente até bem legais... Isso de auto-retrato com câmera digital é bobeira, ele sempre pensou. Registrar as casas grandes, as ruas bonitas: isso, sim. Uma vida melhor que a outra, ele sempre imaginava. Certo dia, quase foi atropelado de celular na mão. Mas é que a casinha do outro lado da rua era tão linda! Chovia. Chegou vivo, ainda que molhado, à escola. Ficou até tarde para compensar o atraso, fazendo a lição de casa no computador, esperando a mãe faxineira terminar de limpar as aulas para voltarem juntos pra casa. Viu que impressora da secretaria dava sopa, já tarde da noite. Outra vez. Não teve dúvida, conectou o celular. Imprimiu, uma por uma, suas fotos. Mãe chama. Ele esconde tudo, sai correndo. O caminho de volta é longo, as imagens do trajeto escuras... Não dá para fotografar. Perto de casa, gotas de chuva arrancam lama do chão. Dentro de casa, goteiras arrancam lágrimas da mãe. Pelo menos seu cantinho é seco. Na esquina da parede que ele definiu como “seu quarto”, João cola fotos sem foco impressas em papel sulfite. Não tem casa, mas tem celular com câmera.
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