jueves, 10 de marzo de 2011

(2) João


Um passo, uma foto. De celular na mão, o jovem e calado João não perdia um “shot”. Imagens tortas, fora de foco, às vezes incompreensíveis, de repente até bem legais... Isso de auto-retrato com câmera digital é bobeira, ele sempre pensou. Registrar as casas grandes, as ruas bonitas: isso, sim. Uma vida melhor que a outra, ele sempre imaginava. Certo dia, quase foi atropelado de celular na mão. Mas é que a casinha do outro lado da rua era tão linda! Chovia. Chegou vivo, ainda que molhado, à escola. Ficou até tarde para compensar o atraso, fazendo a lição de casa no computador, esperando a mãe faxineira terminar de limpar as aulas para voltarem juntos pra casa. Viu que impressora da secretaria dava sopa, já tarde da noite. Outra vez. Não teve dúvida, conectou o celular. Imprimiu, uma por uma, suas fotos. Mãe chama. Ele esconde tudo, sai correndo. O caminho de volta é longo, as imagens do trajeto escuras... Não dá para fotografar. Perto de casa, gotas de chuva arrancam lama do chão. Dentro de casa, goteiras arrancam lágrimas da mãe. Pelo menos seu cantinho é seco. Na esquina da parede que ele definiu como “seu quarto”, João cola fotos sem foco impressas em papel sulfite. Não tem casa, mas tem celular com câmera.

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